quarta-feira, abril 04, 2007
Era o ano descrito pelas vozes do silencio. Vozes extinguidas, vozes perdidas, vozes gastas a transformar um simbolo em muito mais. Tal como uma comunicaçao entre dimensoes paralelas, a semente que brotou na mente de um, escondeu-se no colectivo à espera de quem a colhesse. Todos tinham a noçao de que quando o sol desaparecesse poderiam estar frente a frente com o fim. O passado nao existia. Nem mesmo o tempo verbal associado a algo que o presente tinha deixado para trás se fazia ouvir. Tudo o que faziam e iniciavam era um circulo que fechava obrigatoriamente antes da chegada da noite. Ninguem queria deixar nada para depois. Esse ilustre viajante tambem tinha abalado destas paragens sem deixar nada para trás. Lugar engraçado este em que nem o futuro conseguia deixar nada para trás. As caçadas eram feitas sob o signo do sagrado. O homem moldava-se a partir do primeiro caçador, modelo perfeito existente no colectivo. A caçada era sempre a primeira. A evoluçao fez entao das suas, tornando a terra, mulher. Era esta, agora, o simbolo da nova era. O homem perdeu a sua importancia face a algo que todos sentiam antes de entenderem. As manhãs procediam-se assim. Ao abrir de uma tarde, a curiosidade, dom atribuido aos escolhidos levou-os mais longe. A caverna era escura mas murmurios ininteligiveis vibravam as duas paredes. Os amos da caverna nunca pensaram que alguem poderia encontrar os seus homens. Homens esses, agrilhoados ao chao bebendo apenas as sombras que impunham o seu ritmo de vida. Nos outros, regidos já pelo sagrado feminino, instalou-se a duvida ao encontrarem esta caverna. Até entao nunca tinham tido medo do desconhecido. Face a face com este eram obrigados a começar do zero. Reencontrarem-se consigo mesmo e reconstruirem-se em algo que é obrigatoriamente melhor. A duvida começava a golfar pelas suas veias levando consigo a inocencia que por ali se encontrava. O desconhecido passou a ficar muito mais longe relegado ao papel de vilao. Já nao viam, nem tocavam, nem cheiravam, nem ouviam como antes. O cenário nao tinha mudado, mas eles tinham. Começava assim a noite.
Francisco
0 toes just touched the water
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